Parlamento Europeu declara emergência climática 

Comunicado de imprensa 
 
 

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  • UE deve reduzir emissões em 55% até 2030 para atingir neutralidade climática até 2050 
  • Apelo à redução global das emissões nos setores marítimo e da aviação 
  • Fundo para uma Transição Justa apoiará as pessoas e regiões mais afetadas 
PE declara emergência climática © 123RF/European Union–EP  

A UE deve comprometer-se a atingir emissões líquidas nulas de gases com efeito de estufa o mais tardar até 2050, apela o Parlamento Europeu em vésperas da Conferência da ONU sobre o Clima.

O Parlamento Europeu (PE) declarou hoje, numa resolução aprovada com 429 votos a favor, 225 contra e 19 abstenções, uma emergência climática e ambiental.

“É fundamental tomar medidas imediatas e ambiciosas para limitar o aquecimento global a 1,5°C e evitar uma perda maciça de biodiversidade”, dizem os eurodeputados, instando a Comissão Europeia, os Estados-Membros e todos os intervenientes a nível mundial a tomarem urgentemente as medidas concretas necessárias para combater e conter esta ameaça, “antes que seja demasiado tarde”.

Numa resolução separada sobre a próxima Conferência da ONU sobre Alterações Climáticas (COP25), que se realiza de 2 a 13 de dezembro, em Madrid, os eurodeputados instam os líderes europeus a manifestarem o seu apoio, no Conselho Europeu de 12 e 13 de dezembro, ao objetivo de longo prazo da UE de alcançar um nível nulo de emissões líquidas de gases com efeito de estufa (GEE) “o mais rapidamente possível e, o mais tardar, até 2050”.

“É da maior importância a União enviar uma mensagem clara, durante a COP25, de que está pronta para aumentar o seu contributo para o Acordo de Paris”, diz a resolução, aprovada em plenário com 430 votos a favor, 190 contra e 34 abstenções.

A assembleia europeia salienta que “as intervenções globais levadas a cabo ao longo da próxima década terão um impacto no futuro da humanidade nos próximos 10 000 anos”.

Várias instituições nacionais e administrações locais em diversos países e cientistas declararam que o nosso planeta enfrenta uma emergência climática.

A Comissão Europeia já propôs o objetivo de emissões líquidas nulas até 2050, em linha com o PE, mas o Conselho Europeu ainda não o apoiou, uma vez que a Polónia, a Hungria e a Chéquia se opõem.

Pacto Ecológico Europeu: redução em 55% das emissões até 2030

O PE quer que o Pacto Ecológico Europeu, a ser apresentado pela nova Comissão de Ursula von der Leyen, estabeleça uma estratégia abrangente e ambiciosa para conseguir uma Europa com impacto neutro no clima o mais tardar até 2050, prevendo, entre outras medidas, “o objetivo de reduzir em 55% as emissões de GEE a nível interno até 2030”. Os eurodeputados instam a Comissão a “adaptar, em conformidade, todas as suas políticas relevantes, nomeadamente nos domínios do clima, da agricultura e da coesão”.

A assembleia europeia solicita também à nova Comissão que “corrija as incoerências das atuais políticas da União em matéria de emergência climática e ambiental, nomeadamente através de uma reforma profunda das suas políticas nos domínios da agricultura, do comércio, dos transportes, da energia e do investimento em infraestruturas”.

O novo executivo comunitário deve “avaliar exaustivamente o impacto climático e ambiental de todas as propostas legislativas e orçamentais relevantes” e “assegurar que todas elas estejam plenamente alinhadas com o objetivo de limitar o aquecimento global a menos de 1,5°C e não contribuam para a perda de biodiversidade”.

Redução das emissões nos setores marítimo e da aviação

A redução das emissões requer um esforço abrangente de todos os setores. Os países devem ser incentivados a incluir as emissões provenientes do transporte marítimo e aéreo internacional nos contributos determinados a nível nacional (CDN), diz o PE. Os eurodeputados instam novamente a Comissão a propor a inclusão do setor marítimo no regime de comércio de licenças de emissão da UE.

A resolução destaca que o setor dos transportes é o único que registou um aumento das emissões desde 1990.

Medidas para assegurar uma transição justa

A criação de um Fundo para uma Transição Justa constitui um dos instrumentos que pode ser utilizado a nível da UE para garantir uma transição inclusiva e informada para as pessoas e as regiões mais afetadas pela descarbonização, como as regiões de extração de carvão que se encontram em transição, nota o PE.

A resolução reconhece que “os fundos de compensação não garantem, por si só, uma transição justa” e que “uma estratégia da UE abrangente para o desenvolvimento e a modernização dessas regiões da UE, bem como a disponibilização de assistência aos intervenientes na linha da frente da transição, devem estar na base de qualquer política de transição”.

Financiamento da luta contra as alterações climáticas

A transição climática da UE deve ser sustentável do ponto de vista ecológico, económico e social, insistem os eurodeputados, instando a UE e os Estados‑Membros a adotarem políticas adequadas e a disponibilizarem financiamento suficiente a este respeito.

O PE insta a Comissão a assegurar que o próximo quadro financeiro plurianual (QFP) 2021-2027 cumpra plenamente o Acordo de Paris e que “não sejam efetuados gastos em sentido contrário”.

Os eurodeputados apoiam a introdução de um mecanismo de ajustamento do carbono nas fronteiras para as importações para a UE, a fim de criar condições de concorrência equitativas no comércio internacional e evitar a fuga de carbono.

Fim das subvenções diretas e indiretas aos combustíveis fósseis

O PE apela com urgência a todos os Estados-Membros para que “a versão final dos seus planos nacionais em matéria de energia e clima integre medidas, calendários e políticas concretas para eliminar progressivamente todas as subvenções diretas e indiretas aos combustíveis fósseis até 2020”, a fim de cumprir os compromissos assumidos pela UE a nível mundial e libertar recursos que possam ser utilizados para alcançar uma sociedade com impacto neutro no clima.

A assembleia europeia acolhe com agrado a decisão do Conselho de Administração do Banco Europeu de Investimento (BEI) de pôr fim ao financiamento da maioria dos projetos de energia proveniente de combustíveis fósseis a partir do final de 2021 e de aumentar gradualmente a percentagem do seu financiamento dedicada à ação climática e à sustentabilidade ambiental, com o intuito de que corresponda a 50% das suas operações a partir de 2025.

As subvenções aos combustíveis fósseis continuam a aumentar, ascendendo a cerca de 55 mil milhões de euros por ano na UE.

Compromissos a nível global

A assembleia europeia congratula-se com as iniciativas tomadas pela Comissão e pela comunidade internacional no sentido de apoiar o investimento em matéria de ação climática nos países em desenvolvimento, tais como a Aliança Mundial contra as Alterações Climáticas + e o Fundo Verde para o Clima.

Os eurodeputados salientam a importância de reconstituir o Fundo Verde para o Clima e incentivam os Estados‑Membros a, pelo menos, duplicar as suas contribuições para a mobilização inicial de recursos.

A UE e os Estados-Membros são o maior fornecedor de financiamento público da ação climática. O PE manifesta, no entanto, a sua preocupação pelo facto de os compromissos realmente assumidos pelos países desenvolvidos ainda ficarem muito aquém do objetivo coletivo de 100 mil milhões de dólares por ano a partir de 2020. A assembleia europeia espera também que as economias emergentes contribuam, a partir de 2025, para o montante mais elevado de financiamento internacional da ação climática.

Delegação do Parlamento Europeu à COP25

O presidente do PE, David Sassoli, estará presente na cerimónia de abertura da Conferência da ONU sobre Alterações Climáticas, em Madrid. A delegação do PE à COP25, que estará na capital espanhola de 9 a 13 de dezembro, será liderada pelo eurodeputado holandês dos Verdes/Aliança Livre Europeia, Bas Eickhout.

Vídeo das intervenções de eurodeputados portugueses no debate

Maria da Graça Carvalho (PPE)

João Ferreira (CEUE/EVN)