Impacto da crise financeira e económica global nos países em desenvolvimento e na cooperação para o desenvolvimento (breve apresentação)
João Ferreira (GUE/NGL). - As crises mencionadas no relatório (alimentar, energética, climática, financeira, económica e social), mais não são do que expressões diferenciadas de uma mesma crise estrutural que se vem arrastando há décadas. Em algumas regiões, como a África subsariana, a riqueza por habitante face às outras regiões do mundo tem vindo a divergir de década para década de forma continuada. Apesar das disparidades existentes, os países em desenvolvimento têm genericamente algumas características em comum: a dependência das exportações de um número reduzido de matérias-primas, a falta de diversificação económica, uma forte concentração na agricultura, no sector extractivo ou energético, ou no turismo, e um forte domínio do capital estrangeiro.
A promoção de um modelo exportador e a liberalização progressiva do comércio, que tem vindo a ser imposta a estes países, se necessário com recurso à chantagem, como o demonstra o processo de negociação dos acordos de parceria económica, levam a um agravamento da dependência destes países, comprometendo potencialidades de desenvolvimento endógenas. Mas é a dívida externa que continua a representar a principal sangria de recursos dos países em desenvolvimento. Várias vezes paga e, não obstante, sempre crescente, a dívida atingiu uma dimensão colossal e auto-sustenta a sobreexploração destes países, mantendo a natureza das suas relações com os países do norte. O seu cancelamento é, antes de mais, uma questão de justiça.