Presidente. – Segue-se na ordem do dia o debate sobre seis propostas de resolução sobre o Tibete – planos para tornar o chinês a principal língua de ensino(1).
Lidia Joanna Geringer de Oedenberg, autora. – (PL) Senhora Presidente, em Outubro, milhares de tibetanos manifestaram-se pacificamente contra os planos de mudança da política educativa das autoridades chinesas. O actual modelo bilingue, que permite às minorias étnicas estudarem nas suas línguas nacionais, a par do chinês, deverá ser substituído por um que estabelece o chinês como a língua básica de ensino.
O secretário do Partido Comunista Chinês na província de Qinghai, Qiang Wei, declarou num artigo de imprensa que o Governo espera ver implementado o chinês como principal língua de instrução nas escolas primárias até 2015. Os tibetanos e os membros de outros grupos étnicos, atendendo à necessidade de se integrarem no mercado de trabalho chinês, deveriam ter a possibilidade de estudar a língua chinesa, mas não à custa da privação do direito de receberem uma educação adequada na sua própria língua.
Devo recordar que os direitos por que os tibetanos lutam estão previstos no artigo 4.º da Constituição da República Popular da China e no artigo 10.° da Lei sobre a autonomia nacional e regional. Os tibetanos estão, portanto, a reivindicar o respeito de direitos já estabelecidos, e o Parlamento Europeu deve apoiar vivamente as suas tentativas de preservação da sua cultura, de que a língua é um elemento fundamental. Penso que todos concordamos com as palavras de Dokru Choedaka, defensor da língua tibetana, quando afirma que as escolas e a língua são o tecido da identidade nacional.
Marietje Schaake, autora. – (EN) Senhora Presidente, a cultura e as expressões culturais estão na base dos valores e da identidade dos povos. Segundo Aristóteles, não se trata de aparência exterior mas de significado interior.
A cultura, quando utilizada como instrumento para impor valores e para suprimir a diversidade e a liberdade de expressão, é como uma arma. A introdução do chinês como língua principal de ensino e de redacção dos documentos oficiais no Tibete é um acontecimento muito preocupante. Esta tentativa de obliteração da cultura tibetana contraria as intenções manifestadas pelo próprio Governo chinês de promover relações harmoniosas entre as inúmeras culturas, etnias e identidades do país. Além disso, o Governo chinês deveria permitir o acesso dos meios de comunicação social estrangeiros ao Tibete, sem necessidade de licenças especiais, e o acesso de toda a região a comunicações e a informação não censuradas, incluindo na Internet.
Não só o desenvolvimento económico, mas também a diversidade cultural e o respeito dos direitos humanos contribuem para a riqueza. Nas suas relações com a China, a UE deve colocar sistematicamente no topo da agenda a questão do respeito dos direitos humanos, especialmente no que se refere às minorias étnicas e culturais.
Ryszard Czarnecki, autor. – (PL) Senhora Presidente, os grandes países europeus estão, de facto, a dedicar muita atenção à melhoria das relações económicas, comerciais e de investimento com a China. Isto significa que o Parlamento deve assumir um papel ainda mais relevante na discussão frontal da questão dos direitos humanos e na denúncia da sua violação pelas autoridades chinesas. Penso que hoje o Parlamento deve colocar fortemente a tónica na defesa dos direitos dos habitantes do Tibete à sua própria língua, ao livre contacto com o mundo exterior através da Internet – afinal estamos no século XXI – e à livre comunicação com jornalistas estrangeiros, pois a proibição imposta aos correspondentes estrangeiros que se deslocam à região é lamentável. Por último, gostaria de referir que considero esta imposição da língua chinesa ao Tibete profundamente preocupante.
Heidi Hautala, autora. – (FI) Senhora Presidente, o artigo 4.º da Constituição da República Popular da China garante o direito de todos os cidadãos e de todas as nacionalidades usarem e desenvolverem a suas línguas faladas e escritas. Tendo isso presente, estamos naturalmente muito preocupados com as notícias que recebemos recentemente de que o estatuto do tibetano como língua de ensino poderá ser enfraquecido. Tenho conhecimento de que se têm levantado protestos nesse país gigantesco contra o facto de os dialectos falados em Xangai e em Cantão estarem, do mesmo modo, a ser obliterados, o que é outro motivo de preocupação.
É importante que a República Popular da China reconheça que a língua é um factor crucial para a preservação da cultura tibetana e que a língua tibetana deve continuar a ser a primeira língua de ensino e deve ser utilizada também nas universidades. É claro que o bilinguismo genuíno é um objectivo a não perder de vista. Há que reconhecer que é sensato que os tibetanos aprendam também o chinês, mas torná-lo a principal língua de ensino terá, sem dúvida, implicações negativas, pois significará sacrificar a cultura tibetana.
É também importante que a China ratifique, por fim, o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos que assinou há anos, pois isso contribuirá para reforçar a garantia de protecção das minorias étnicas e religiosas e a preservação das suas línguas e das suas culturas.
Thomas Mann, autor. – (DE) Senhora Presidente, quando intervimos no Parlamento Europeu podemos utilizar a nossa língua materna. O Governo chinês planeia retirar esse direito fundamental aos tibetanos, ameaçando, dessa forma, a sua identidade. Milhares de tibetanos têm-se manifestado contra a possível abolição da política bilingue, por meio de protestos pacíficos em escolas e em universidades. Em 27 de Outubro, recebi, frente ao edifício do Parlamento Europeu em Bruxelas, uma petição de crianças tibetanas em idade escolar que procuravam a nossa solidariedade. Ontem, o embaixador chinês, o senhor Song Zhe, sublinhou que a educação bilingue no Tibete é uma medida importante para apoiar a cultura tibetana. Embora tenha ouvido o seu discurso, não estou certo de poder confiar nas suas palavras. A verdade é que o senhor embaixador não tem desmentido os inúmeros relatos dos meios de comunicação social que dão conta de que o mandarim será instituído como língua principal nas instituições de ensino da região de Quinghai. Além disso, prevê-se também que o cantonês e o dialecto de Xangai sejam substituídos pelo mandarim ao nível de todo o sistema educativo e até mesmo na rádio, isto apesar do facto de o Governo declarar que o mandarim só é falado por metade da população chinesa. O artigo 4.º da Constituição e o artigo 10.º da lei relativa à autonomia regional sublinham o direito de todos os grupos étnicos de desenvolverem a sua língua nativa falada e escrita. Senhor Comissário Lewandowski, insto-o a velar por que este preocupante acontecimento seja discutido nos diálogos entre a UE e a China. Peço-lhe que envie um grupo de peritos em missão de informação à região, para se estabelecer onde reside a ameaça ao sistema bilingue. A língua tibetana pode ser complementada pelo chinês, mas seguramente que não substituída por ele.
Róża Gräfin von Thun und Hohenstein, em nome do Grupo PPE. – (PL) Senhora Presidente, actualmente ninguém pode queixar-se de ignorância ou de falta de informação sobre o que se está a passar no Tibete e, contudo, continuamos sem fazer praticamente nada para impedir que a China destrua os tibetanos enquanto povo individual e enquanto nação, a sua maravilhosa cultura e a sua bela e autêntica religiosidade.
Hoje estamos a discutir a destruição da língua tibetana e a sua substituição pelo mandarim. Na verdade, muitos de nós aqui presentes, e antes de nós os nossos antepassados, não raro tivemos de pagar um preço muito alto pela defesa das nossas línguas nacionais contra a opressão de um invasor ou de um ditador, pois sabíamos que ao perdermos a nossa língua, estaríamos a perder a última esperança de um dia podermos voltar a ser nós próprios no nosso país. Atendendo também a estas experiências, que têm estado no destino de muitos europeus, temos de exigir que aqueles que em nosso nome negoceiam com a China, seja no domínio do desenvolvimento tecnológico, do investimento, do comércio ou noutras áreas, não evitem o assunto da recorrente violação dos direitos humanos na China. Peço que nos diálogos que mantemos com o Governo chinês, e neste ponto junto-me a todos os colegas que antes de mim têm feito apelos nesse sentido, a questão dos direitos humanos não seja relegada para segundo plano, mesmo sob o pretexto de estarmos a atravessar uma crise económica.
Kristiina Ojuland, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhora Presidente, ao longo de toda a nossa história, nós, os estónios, temos lutado para preservar a língua do povo nativo. Após a restauração da independência em 1991, pudemos finalmente gozar a liberdade de falar na nossa língua e de estimar a nossa cultura e a nossa identidade. Entristece-me ver o povo do Tibete ser oprimido e ver a sua língua, a sua identidade, a sua cultura e a sua religião condenadas à extinção.
A República Popular da China está a utilizar o mesmo método de marginalização dos tibetanos que a União Soviética utilizou em relação aos estónios. A sinificação do Tibete, tal como aconteceu com a “russificação” da Estónia durante a ocupação soviética, está a ser levada a cabo através da instalação de pessoas não nativas, provenientes de outras partes do país, no território estabelecido do povo indígena.
Os tibetanos têm todo o direito de se sentir intimidados, sobretudo se atendermos ao facto de que o número de chineses de etnia Han a viver no Tibete continua a aumentar. A intenção das autoridades chinesas de instituir o mandarim como a língua principal de ensino nas escolas viola os direitos do povo indígena do Tibete. Gostaria que a discussão e a resolução desta questão fossem uma prioridade da política da União Europeia para a China.
Reinhard Bütikofer, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhora Presidente, estou contra esta resolução. O meu grupo permitiu-me que me pronunciasse contra ela, apesar de a maioria dos meus colegas não partilhar a minha opinião.
Como foi referido, o embaixador chinês respondeu às críticas que lhe foram expressas. Posso concordar que a sua carta não responda a todas as questões, mas por que razão pretendemos aprovar imediatamente uma resolução, em vez de procurarmos primeiramente o diálogo? Como pode esta Assembleia levar-se a sério, se primeiro aprova uma resolução e depois, como defendeu o orador anterior, decide enviar um grupo de peritos em missão de informação para estabelecerem onde reside verdadeiramente a ameaça ao bilinguismo?
Penso que não é plausível falarmos da morte da língua tibetana. Não é da competência deste Parlamento decidir se o húngaro é muito ou pouco ensinado nas escolas da Eslováquia ou da Roménia, mas consideramo-nos no direito de decidir se no Tibete a matemática deve ser ensinada em tibetano ou noutra língua. Não me parece que isso seja sensato.
Por último, considero que é um erro associar a questão da política da língua ao Dalai Lama, ainda que sejam questões bastante distintas. Não creio que dessa forma estejamos a contribuir para que as pessoas não sejam impedidas de usar a sua própria língua.
Joanna Katarzyna Skrzydlewska (PPE). – (PL) Senhora Presidente, a língua é o atributo de identidade mais importante e a principal ferramenta de comunicação social. O debate de hoje sobre os planos do Governo da República Popular da China de tornar o chinês a única língua obrigatória no sistema de ensino do Tibete é um ataque à cultura dessa nação. Até agora, o tibetano tem sido a língua oficial do Tibete e das regiões chinesas onde os tibetanos constituem o principal grupo étnico. Para os tibetanos, o uso e o desenvolvimento da sua língua representa uma das principais formas de exercício da sua autonomia de facto. A necessidade de aprender também o chinês é compreensível para os tibetanos que pretendem procurar trabalho fora do Tibete, mas a solução adequada parece ser a introdução do chinês como disciplina curricular, e não a substituição do tibetano pelo chinês como língua de ensino.
Por conseguinte, devemos manifestar a nossa oposição à tentativa do Governo chinês de retirar aos tibetanos a sua principal ferramenta de comunicação. Ao privarem os tibetanos da possibilidade de aprenderem a sua língua, os chineses estão lenta mas eficazmente a destruir a autonomia do Tibete e a provocar a perda da herança cultural do povo tibetano.
Cristian Dan Preda (PPE) (o orador dirige uma pergunta ao deputado Reinhard Bütikofer segundo o procedimento “cartão azul”, nos termos do n.º 8 do artigo 149.º). – (RO) Senhora Presidente, gostaria de fazer uma pergunta ao colega Bütikofer. Pode explicar-me, Senhor Deputado, por que razão considera que, neste contexto, é mais relevante a posição do embaixador chinês sobre o assunto do que o nosso desejo de discutir sobre o que se está a passar no Tibete? Se bem entendi, a explicação é o senhor deputado entender que devemos seguir o que a Embaixada chinesa diz ao invés de nos guiarmos pelas nossas convicções.
Reinhard Bütikofer (Verts/ALE). – (DE) (O orador responde a uma pergunta do deputado Cristian Dan Preda segundo o procedimento “cartão azul”, nos termos do n.º 8 do artigo 149.º).
Senhora Presidente, estou muito agradecido ao meu colega por me fazer esta pergunta, pois dá-me a oportunidade de repetir o que disse antes. Eu não disse que deveríamos acreditar nas palavras do embaixador chinês. O que disse foi que seria sensato fazermos o nosso trabalho com seriedade e procurar o diálogo antes de discutir uma resolução.
Não faz sentido advogar a adopção de uma resolução agora e depois enviar peritos à China para averiguar se o bilinguismo está de facto em perigo e onde reside exactamente a ameaça. Sou de opinião de que se queremos fazer alguma coisa em defesa do efectivo respeito dos direitos humanos, não basta expressarmos intenções piedosas, é necessário também que conheçamos a fundo o problema para evitar agravar uma situação já difícil.
Csaba Sógor (PPE). – (HU) Senhora Presidente, é com satisfação que apoio a proposta de resolução comum, uma vez que expressa claramente princípios que eu, enquanto representante de uma minoria indígena nacional, partilho inteiramente. Apoio, portanto, os princípios de que a) a opressão de línguas minoritárias constitui uma violação fundamental do direito à liberdade dos cidadãos pertencentes a essas minorias; b) o ensino na língua materna é a forma mais adequada de aprendizagem; e c) deveria, por lei, ser atribuída às autoridades e às comunidades locais competência para tomarem decisões sobre a língua utilizada no ensino.
Gostaria de chamar a atenção de todos os meus colegas que apoiam a proposta de resolução para o facto de que, infelizmente, esses princípios também não são plenamente respeitados em certos Estados-Membros da UE. A testemunhá-lo estão a lei eslovaca sobre a língua e a lei romena sobre a educação, actualmente em vigor, nos termos das quais o ensino de certas disciplinas só pode ser feito na língua oficial. Poderia nomear mais alguns países da UE. Não vou fazê-lo agora. Sou um defensor empenhado da vigilância sobre as violações dos direitos humanos nos países fora da União Europeia, mas, ao mesmo tempo, considero importante não deixar passar em silêncio certas práticas discriminatórias em relação a minorias nacionais no seio da UE.
Zuzana Brzobohatá (S&D). – (CS) Senhora Presidente, gostaria de mencionar na minha intervenção o desejo manifestado pela República Popular da China de relações harmoniosas entre as 56 minorias étnicas que vivem no território. A esse respeito, acredito firmemente ser necessário apoiar a preservação do tibetano, uma das quatro línguas mais antigas e primitivas da Ásia, pilar fundamental da identidade, da cultura e da religião tibetanas, e que representa também, com a cultura tibetana no seu todo, uma parte insubstituível do património cultural mundial, testemunho de uma civilização historicamente rica. Tenho confiança em que a China continuará a aplicar o artigo 4.º da Constituição da República Popular da China e o artigo 10.º da Lei sobre a autonomia nacional e regional (LANR), que garantem a liberdade de todas as nacionalidades utilizarem e desenvolverem as suas línguas faladas e escritas.
Defendo firmemente o direito das minorias étnicas a reterem a sua língua e literatura. Um sistema educativo bilingue justo contribuirá para uma melhor cooperação e um melhor entendimento, sobretudo se os tibetanos aprenderem o chinês e se os chineses de etnia Han que vivem nos territórios tibetanos forem simultaneamente encorajados a aprender o tibetano. Decidi dar o meu apoio à proposta de resolução comum apresentada, visto incluir todos os pontos que mencionei.
Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Senhora Presidente, a China é uma grande potência em termos económicos e militares e, no seu comportamento para com os cidadãos, a administração chinesa há muito que deixa entender que ali os princípios culturais, sociais e democráticos, tal como são reconhecidos a nível internacional, são aplicados de forma selectiva e apenas quando isso convém ao Governo em termos de controlo do país.
Não acredito que a nossa indignação vá mudar a determinação do Governo chinês em implementar a política de educação que entende no país. Apesar disso, considero ser necessário enviar um aviso sério aos nossos parceiros chineses, insistindo no direito do povo tibetano de preservar a sua identidade e a sua língua, e sublinhando o papel insubstituível da língua materna na educação das crianças.
A China deveria fazer no Tibete o mesmo que a Eslováquia faz em relação à sua minoria húngara, permitindo que as crianças e os jovens da minoria húngara aprendam em húngaro desde o infantário até ao secundário. Por outro lado, gostaria de chamar a atenção do senhor deputado Sógor para o facto de que, na Hungria, as crianças e os jovens eslovacos têm de fazer a sua aprendizagem, desde o infantário até à escola secundária, em húngaro, e que têm eslovaco apenas como língua estrangeira.
Csanád Szegedi (NI). – (HU) Senhora Presidente, como representante do Movimento Jobbik para uma Hungria Melhor, acolho com satisfação e dou o meu apoio à proposta de resolução do Parlamento Europeu contra os planos da República Popular da China de tornar o chinês a língua oficial das escolas tibetanas. Embora tenham garantido a autonomia do Tibete, os ocupantes chineses estão a excluir progressivamente a língua tibetana do ensino e dos organismos oficiais. O fraco registo da China em matéria de respeito dos direitos humanos é um factor acrescido de risco de desenvolvimento de conflitos no Tibete devido à imposição do chinês. Os tibetanos têm de ter salvaguardado o direito de serem educados e de poderem tratar de assuntos oficiais na sua língua materna. Os direitos humanos fundamentais do povo do Tibete têm de ser garantidos, incluindo o direito de reunião e o direito civil de manifestação.
Lamentavelmente, não precisamos de ir muito longe para encontrar casos semelhantes, visto as tentativas grosseiras de assimilação serem um problema real e actual também aqui na Europa. Basta-nos atentar na forma como a Roménia trata os húngaros da Transilvânia ou os húngaros Csángó, ou considerar a discriminatória lei eslovaca sobre a língua.
Angelika Werthmann (NI). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, penso que os tibetanos devem poder exercer o direito de se expressarem na sua língua nativa. É um direito que nos assiste a todos. Se assim não for, aquele povo perderá a sua identidade cultural. Em relação à situação do Tibete, sou de opinião, portanto, que o bilinguismo, ou melhor, a aprendizagem tanto do tibetano como do chinês, é a solução adequada.
Afinal, o bilinguismo promove o desenvolvimento das crianças a muitos níveis, merecendo certamente ser apoiado.
Bogusław Sonik (PPE). – (PL) Senhora Presidente, a língua tibetana é uma parte integrante da longa história de uma nação que há muito luta pela preservação da sua cultura e um elemento que une estreitamente a comunidade. Por essa razão, a manutenção e a preservação do bilinguismo em todos níveis de ensino nas escolas do Tibete é a única e a melhor solução. O Governo chinês assinou a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, comprometendo-se a observar os direitos fundamentais das minorias nacionais no seu território. Qualquer acção do Governo chinês no sentido de banir o uso do tibetano nas escolas deve ser condenada pela comunidade internacional. Penso que deveriam ser tomadas medidas para possibilitar um controlo mais eficaz da observância dos direitos fundamentais dos tibetanos na China.
Sergio Paolo Francesco Silvestris (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a revogação do sistema bilingue no Tibete é um acto de intolerância que viola o princípio de respeito da identidade cultural das minorias e os direitos humanos.
Os acordos ou os contractos comerciais com a China não podem funcionar como moeda de troca para desviar a atenção da Europa da grave discriminação de que o povo tibetano continua a ser vítima.
Os tibetanos têm o direito de, pelo menos, continuar a ser um povo e de se sentir como tal; para isso, têm de ser livres de manter vivas as suas tradições, a sua história e a sua língua; em suma, de preservar a sua identidade, de que a identidade linguística é uma componente essencial.
O plano de destruição da cultura tibetana que, sob o signo da foice e do martelo, e volvidas décadas de perseguição ao povo e aos monges tibetanos, ainda não logrou uma conclusão satisfatória, não pode ser artificiosamente concretizado através da abolição da língua tibetana e da imposição do chinês.
Janusz Lewandowski, Membro da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, estamos a discutir um problema que existe em quase todos os países onde vivem minorias, mais concretamente, o problema da preservação da língua e da cultura e da igualdade de acesso à educação. É uma questão de reiteração dos nossos valores, Senhor Deputado Bütikofer.
Antes de abordar a questão do Tibete, gostaria de fazer um breve comentário sobre as nossas relações bilaterais com a China. A nossa parceria estratégica é forte, o que nos permite discutir todas as questões, mesmo as mais sensíveis. Temos desenvolvido um impressionante quadro de contactos a alto nível, no âmbito dos quais debatemos regularmente os desafios com que os nossos cidadãos se confrontam, sem, no entanto, descurar questões sobre as quais possamos ter pontos de vista divergentes. A situação global do Tibete é uma dessas questões.
A tentativa de instituição do chinês como principal língua de ensino nas regiões tibetanas levanta questões complexas e sensíveis. A China tem de encontrar o equilíbrio certo de forma a permitir o ensino efectivo e a preservação da língua tibetana, como língua viva para a manutenção da educação nessa língua e como língua materna nos territórios tibetanos, e, ao mesmo tempo, o ensino paralelo do chinês, de modo a dar aos alunos tibetanos perspectivas razoáveis de futura integração no mercado de trabalho. O isolamento dos territórios tibetanos já de si não facilita a tarefa.
Esperamos sinceramente que o Governo chinês assegure a manutenção do tibetano como principal língua de ensino nas escolas do Tibete e bem assim a protecção das línguas minoritárias noutras partes da China. Com esse objectivo em vista, a China deveria procurar o conselho de especialistas e evitar a discriminação e a influência da ideologia. A UE está disposta a partilhar a sua competência, caso a China assim o decida. Esperamos – e com isto respondo directamente aos senhores deputados – ter uma discussão franca com as autoridades chinesas sobre este assunto em particular na próxima ronda do diálogo UE-China sobre os direitos humanos. É muito importante que a China permita uma consulta pública aberta para que os cidadãos afectados por alterações em matéria de política da língua possam expressar livremente a sua opinião, a qual terá que ser tida em consideração.
Além disso, temos seguido com profunda preocupação as notícias da detenção de vários estudantes e professores tibetanos que se manifestaram pacificamente contra o plano de reforma educativa do Governo. Exortamos a China a libertar esses cidadãos e a iniciar negociações com a sociedade civil tibetana a fim de, em conjunto, discutirem a pertinência da reforma proposta.
Para terminar, gostaria de recordar a posição de longa data da UE em relação ao Tibete. A preservação da cultura, da língua, da religião e das tradições únicas do Tibete e a necessidade de implementação, ao abrigo da Constituição chinesa, de um sistema de autonomia significativo para o Tibete, continuam a ser questões prioritárias para a UE. São assuntos que persistentemente procuramos resolver no quadro do diálogo político com a China.
Presidente. – Está encerrado o debate.
A votação terá lugar dentro de breves instantes.
Declarações escritas (Artigo 149.º)
Roberta Angelilli (PPE), por escrito. – (IT) Apesar do envolvimento e do empenho persistentes de um grande número de líderes, instituições e ONG mundiais que continuamente têm exortado as autoridades chinesas a evitar o uso de violência contra o povo tibetano, as autoridades chinesas parecem, infelizmente, ignorar esses apelos, o que compromete as relações internacionais. O Parlamento Europeu tem há muito manifestado o seu apoio ao Tibete e a sua solidariedade para com essa nação que sempre lutou contra as políticas opressivas e discriminatórias das autoridades chinesas, que desde longa data ameaçam a independência territorial e cultural do povo tibetano. O mais recente acto de opressão de Pequim foi a decisão de instituir o chinês como língua oficial e obrigatória do Tibete, apesar de a população falar tibetano e considerar o mandarim como uma língua estrangeira. Neste preciso momento, o Tibete está a ser palco de um genocídio cultural, pois a decisão do Governo chinês expressa a sua intenção clara de conduzir aquele povo à extinção, não só em termos geográficos como também culturais, impedindo que as gerações mais jovens conheçam a sua cultura e, sobretudo, a sua herança linguística. Face à atitude inflexível da China em relação ao Tibete, gostaria de instar o Parlamento Europeu a manter a sua posição de intransigência face às graves violações de direitos humanos e de direitos das minorias cometidas pelas autoridades chinesas e a fazer saber aos tibetanos que estamos do seu lado e dispostos a ajudar.
Catherine Soullie (PPE), por escrito. – (FR) Ao aprovar esta resolução, o Parlamento Europeu, a voz dos cidadãos europeus e da democracia, está a enviar às autoridades chinesas uma mensagem clara: a de que a destruição e a subjugação de uma cultura em benefício de outra não é um acto digno de um país que se preze como grande e moderno. O povo tibetano está a fazer uma reivindicação totalmente legítima: a de que a sua história e a sua língua sejam respeitadas. A cultura tibetana não é a única ameaçada por esta decisão insensata – o cantonês e outras línguas acabarão também por ser vítimas da política de uniformização. Tendo presente que a Constituição chinesa reconhece especificamente o direito de todos os cidadãos de se expressarem na língua da sua preferência, como pode a administração chinesa justificar esta inversão oficial de política? O lema da União Europeia resume claramente a mensagem que temos a obrigação de passar às autoridades chinesas através desta resolução: unida na diversidade.