Quarta-feira, 18 de Setembro de 2024 - Estrasburgo
O sistema do «cartão nacional» húngaro e suas consequências para Schengen e para o espaço de liberdade, segurança e justiça (debate)
António Tânger Corrêa (PfE). – Senhor Presidente, Senhor Vice-Presidente, Senhor Ministro, Caros Colegas, fui diplomata de carreira durante 40 anos. Fui um dos negociadores de Schengen.
Toda a gente fala de Schengen neste plenário. Ninguém tem ideia do que está a falar. Eu, não só trabalhei Schengen I e Schengen II, como durante toda a minha carreira pratiquei Schengen. Tinha de conceder vistos de acordo com os requisitos dos acordos de Schengen. Tinha de fazer uma análise das pessoas e dos motivos que elas tinham para visitar o meu país, porque eu sabia que, quando entrassem em Portugal, teriam autorização para percorrer todo o Espaço Schengen em virtude dos respetivos acordos.
Agora temos o quê? Temos uma total e absoluta falta de Estado de lei, em que qualquer pessoa entra em qualquer país, nomeadamente nos países da Europa Ocidental.
Catorze vistos foram dados a russos em julho e agosto. Catorze! Dez a russos e quatro a bielorrussos que, ainda por cima, estavam perfeitamente identificados. Não me parece que seja um processo de espião. Querem casos de problemas de segurança? Eu dou-vos. A liberalização dos vistos para nacionais do Kosovo, com as máfias todas a circular livremente pela Europa. No meu país, dirigentes do Bangladesh, proscritos no seu próprio país por radicalismo islamista, foram fazer reuniões na capital do meu país, em Lisboa.
Isto são riscos de segurança. Isto é aquilo que está a pôr a Europa em perigo. Não é a meia dúzia de vistos que o Sr. Órban concede aos russos ou aos bielorrussos. E quem é que vos disse que esses dez russos e quatro bielorrussos são agentes de Putin e não são opositores a Putin que, pura e simplesmente, querem ir trabalhar fora e fazer a sua vida? Quem é que vos diz?
Em contrapartida, Caros Colegas, temos de ter um bocado de estudos de geopolítica e temos de saber o que se está a passar na nossa Europa.