Ciberdefesa: “a vulnerabilidade de um Estado-Membro pode afetar os outros”

Num momento em que a Europa se enfrenta ao risco de ataques cibernéticos contra alvos civis e militares, os eurodeputados exigem mais cooperação em ciberdefesa. Conversámos com Urmas Paet.

Fotografia do eurodeputado Urmas Paet.
Relator Urmas Paet

Os ataques cibernéticos podem ter como alvo uma ampla gama de serviços e produtos, desde os nossos dipositivos e carteiras eletrónicas, até aos hospitais, centrais elétricas, sistemas de controlo do tfego aéreo e instalações militares. No dia 12 de junho, os eurodeputados debateram uma proposta de relatório que pede aos Estados-Membros que aumentem as suas capacidades de ciberdefesa e trabalhem de forma mais coordenada. A proposta foi adotada no dia 13 de junho.

  

Falámos com o autor do relatório, Urmas Paet (Estónia, ALDE), antes do plenário, sobre o que ainda é preciso fazer para melhorar a nosso sistema de ciberdefesa.

Se tivesse que avaliar a defesa cibernética da UE numa escala de um a cinco, sendo 1 excelente e 5 um fracasso, como classificaria a UE e por quê?

Sendo otimista, diria que um dois. A situação não é má, mas podemos fazer melhor. A questão de fundo é que a defesa cibernética é uma responsabilidade dos Estados-Membros. A União Europeia pode forçá-los a cooperar de forma mais eficiente e a ter estruturas mais unificadas para combater o cibercrime e os ciberataques, preparando-os para atuar em caso de necessidade. A UE pode também prover uma plataforma de cooperação com a NATO e países terceiros. A segurança cibernética está interligada: se um Estado-Membro for vulnerável, a sua vulnerabilidade pode prejudicar os outros.

Que papel pode desempenhar a UE em relação à ciberdefesa?

O papel da UE é encorajar os Estados-Membros a criarem estruturas semelhantes - o que facilitaria a cooperação - e incentivá-los a partilhar os seus conhecimentos e informações, adotando uma visão global para a Europa. Para dar um exemplo, estamos a desaproveitar mais de 100.000 especialistas ou profissionais que nos podem ajudar a lidar com ataques cibernéticos.

A defesa cibernética é uma parte natural da cooperação europeia no domínio da defesa e de uma política europeia de segurança, juntando-se aos domínios militares clássicos como o ar, o mar e a terra.

Quando as pessoas falam sobre ameaças cibernéticas, geralmente pensam no uso indevido dos seus dados pessoais ou na segurança dos pagamentos online. O seu relatório dedica-se mais aos aspetos militares da ciberdefesa. Existem paralelismos a nível civil?

Este relatório centra-se sobretudo na ciberdefesa. Contudo, não existe uma diferença clara entre ciberdefesa e cibersegurança. Todos os sistemas modernos Europeus usam tecnologias da informação e computadores. Se houver um ataque cibernético bem-sucedido, por exemplo, contra uma central nuclear, todos somos conscientes que podemos estar perante uma crise de consequências devastadoras. Estamos na fronteira entre o militar e o civil, entre a esfera pública e a privada.

No verão passado, os hospitais britânicos foram alvo de ataques deste estilo, tendo sido uma sorte que ninguém tenha morrido. Futuros ataques contra o sistema de controlo do tráfego aéreo ou contra os sistemas ferroviários são um risco sério. Temos que estar dispostos a tomar a iniciativa e não adotarmos uma postura defensiva, sobretudo quando sabemos de onde vêm os ataques.

É de esperar que os ataques cibernéticos se tornem mais comuns, sendo preciso treinar as pessoas para saberem reagir aos mesmos?

Em poucas palavras, sim. A nível pessoal, todos devemos velar pela nossa “higiene cibernética” e como nos comportamos na internet, enquanto os governos e os políticos têm que ser conscientes das possíveis consequências dos riscos cibernéticos. Espero, sinceramente, que esta consciencialização se estenda a todos os níveis.

Quer saber mais? Terá a oportunidade de fazer suas próprias perguntas durante a nossa discussão no Facebook Live com Urmas Paet, que terá lugar na terça-feira, dia 12 de junho, às 14:30 CET.