As águas da Europa: principais desafios e soluções da UE

Desde a escassez de água à poluição e aos riscos climáticos, descobre as principais questões sobre as águas da Europa e as propostas do Parlamento para a política da água.

Mapa da UE que mostra a escassez de água por país.
Resiliência hídrica

A água é um recurso essencial não só para a saúde pública, o ambiente e os seus ecossistemas, mas também para a produção de energia, a agricultura e a segurança alimentar. Apesar da sua importância, a água não é um recurso infinito e deve ser protegida da poluição e da exploração excessiva.

Os complexos problemas da água afectam milhões de pessoas em toda a Europa. Questões como a escassez, a poluição e os riscos crescentes de inundações e secas já não se limitam a regiões isoladas.

O Parlamento Europeu apresentou propostas ambiciosas para mitigar estes desafios relativos à água num relatório sobre a futura Estratégia Europeia de Resiliência Hídrica, que foi aprovado em maio de 2025. Espera-se que a Comissão Europeia apresente a futura estratégia antes do verão de 2025.

Escassez de água na Europa: impacto e soluções

A escassez de recursos hídricos é um dos problemas mais prementes que a Europa enfrenta. Em 2022, cerca de 34% da população da UE e 40% do seu território enfrentaram escassez de água sazonal. No sul da Europa, até 70% da população sofre de escassez de água durante os meses de verão.

O Índice de Exploração da Água mais (WEI+) mede o consumo de água em percentagem dos recursos de água doce renováveis para um determinado território e período. O mapa acima mostra que Chipre teve os maiores problemas com a disponibilidade de água entre todos os países da UE em 2022, seguido de Malta e da Roménia.

No entanto, os cálculos anuais do WEI+ a nível nacional não reflectem o facto de os recursos hídricos poderem ser insuficientes em algumas regiões durante épocas específicas.

De acordo com as Nações Unidas, um país sofre de “estresse hídrico” quando os seus recursos hídricos anuais são inferiores a 1 700 m³ por habitante. Países como Chipre, Malta, Polónia e Chéquia sofrem de estresse hídrico crónico.

30%

Percentagem de europeus afectados pelo estresse hídrico todos os anos

De acordo com a Agência Europeia do Ambiente (AEA), cerca de 20% do território europeu e 30% da população são afectados pelo stress hídrico todos os anos.


Os eurodeputados apelam à definição de objectivos vinculativos para a eficiência hídrica que abranjam todas as utilizações da água, incluindo a indústria, a agricultura e os agregados familiares. As soluções propostas incluem a adoção de modelos agrícolas mais sustentáveis, apoiados por soluções tecnológicas inovadoras, a concessão de incentivos a práticas de reutilização da água e a redução da poluição e da procura de água.


Poluição da água: principais ameaças e como evitá-las


Os problemas com as águas na UE não se limitam à quantidade, mas estão também relacionados com a qualidade. Em 2021, apenas 37% das águas de superfície da Europa alcançaram um estado ecológico “bom” ou “elevado”, e apenas 29% alcançaram o estado químico “bom”, de acordo com a AEA. Um bom estado ecológico e químico indica que a atividade humana não teve um impacto significativo numa massa de água de superfície.

Os principais poluentes da água incluem produtos químicos industriais, incluindo metais pesados e substâncias nocivas persistentes conhecidas como “substâncias químicas eternas”, produtos químicos utilizados na agricultura que chegam aos rios, lagos e outras águas, e contaminantes emergentes como os microplásticos.

Os eurodeputados sublinham que as leis da UE existentes para combater a poluição da água (como a diretiva-quadro relativa à água e a diretiva relativa à água potável) precisam de ser melhor implementadas e aplicadas. Os eurodeputados acrescentam que a UE precisa de reduzir ainda mais a poluição causada por produtos químicos, produtos farmacêuticos, bactérias resistentes a antibióticos, microplásticos, pesticidas químicos e fertilizantes.

Para além disso, a Comissão deve propor a eliminação progressiva das “substâncias químicas eternas” nos bens de consumo que se revelaram preocupantes para a saúde humana e para o ambiente e atualizar os limites para estes produtos químicos na água potável.

O impacto das alterações climáticas


As alterações climáticas pioram os problemas da água na Europa. O calor extremo, as secas prolongadas e as inundações devastadoras prejudicam os ecossistemas e a saúde humana e causam grandes perturbações nas actividades económicas.

Até meados do século, prevê-se que a frequência e a intensidade das ondas de calor e da seca aumentem na maior parte da Europa.
Agência Europeia do Ambiente
Impacto da seca nos ecossistemas da Europa
Fonte "Até meados do século, prevê-se que a frequência e a intensidade das ondas de calor e da seca aumentem na maior parte da Europa." Abre numa nova janela

Os eurodeputados sugerem medidas urgentes para aliviar o impacto das secas, tais como uma maior reutilização das águas residuais, uma maior poupança de água nos sectores da construção e da indústria e uma maior eficiência hídrica na agricultura. Os investimentos em técnicas de armazenamento de água são também fundamentais para manter o abastecimento de água durante os períodos de seca.

Para ajudar a atenuar os riscos de inundação, o relatório propõe soluções baseadas na natureza, como a recuperação de zonas húmidas e a criação de zonas verdes de proteção.

Recursos hídricos partilhados: cooperação transfronteiriça


Muitos dos rios e lagos da Europa são partilhados por vários países, o que torna essencial a gestão transfronteiriça da água.

Os eurodeputados sublinham que a resiliência hídrica deve ser um esforço europeu partilhado e que a Comissão deve assegurar a solidariedade regional e transnacional através de políticas coordenadas no domínio da água e facilitar a cooperação entre os países da UE.

Os investimentos em infra-estruturas hídricas e sistemas de monitorização inteligentes são essenciais para acompanhar a qualidade e a utilização da água em tempo real. Por conseguinte, os eurodeputados sugerem a criação de um fundo separado e específico no próximo orçamento de longo prazo da UE, a partir de 2028, para melhorar a resiliência hídrica nas regiões mais expostas ao risco de escassez de água.

Gestão inteligente da água: tecnologias para um futuro sustentável

Os desafios modernos exigem soluções modernas. As tecnologias emergentes podem ajudar a transformar a gestão da água e a tornar a sua utilização mais sustentável.

Os eurodeputados instam a Comissão a investir em soluções de Inteligência Artificial (IA), sensores para monitorização em tempo real da qualidade e quantidade de água, irrigação inteligente e tecnologias para melhorar a eficiência da água.

O tratamento de águas residuais também pode beneficiar de processos de tratamento avançados que permitam taxas mais elevadas de reutilização da água, tanto em zonas urbanas como rurais.